Depois de sucessivos atrasos, a rede de Cuidados Continuados Integrados de Saúde Mental (CCISM) vai finalmente avançar. Uma das prioridades é retirar os doentes mentais graves dos hospitais psiquiátricos e evitar internamentos para toda a vida. Com este arranque vai ser, assim, possível concretizar uma medida anunciada há anos: o encerramento do hospital psiquiátrico mais antigo do país, o Miguel Bombarda (Lisboa), que acontecerá até Dezembro, após a transferência para residências dos 44 doentes que aí ainda permanecem internados, adianta o coordenador da equipa de projecto dos CCISM, o psiquiatra Álvaro Carvalho.
No futuro, o objectivo é manter abertos apenas três hospitais psiquiátricos: o Júlio de Matos ( Lisboa), o Magalhães Lemos (Porto) e o Sobral Cid (Centro). No prazo de "cinco a sete anos, pretende-se ter cerca de quatro mil pessoas em residências de vários tipos", precisa Álvaro Carvalho. A equipa está integrada na Unidade de Missão dos Cuidados Continuados Integrados.
A desactivação dos hospitais psiquiátricos implica a criação de uma retaguarda de respostas alternativas, sem as quais se correria o risco de uma parte destes doentes se tornarem sem-abrigo, como sucedeu noutros países."Há evidência científica de que, mesmo com os novos medicamentos antipsicóticos, a eficácia da intervenção só se mantém se os doentes [mentais graves, sobretudo esquizofrénicos] forem integrados em programas de reabilitação psico-social", acentua o especialista. Até porque, acrescenta, "estes doentes têm tendência para se isolar e entrar em conflito com as famílias".
É justamente para contornar estes problemas que vão ser criadas as novas respostas, primeiro num período de cerca de dois anos com experiências - piloto, depois com um programa anual de concursos a que se poderão candidatar entidades públicas, privadas e do sector social. Os primeiros protocolos de experiências - piloto vão ser assinados amanhã.
Não se está propriamente a partir do zero - há já cerca de 200 pessoas em residências e 640 em fóruns sócio - ocupacionais a nível nacional -, mas pretende-se alargar substancialmente e agilizar todo este processo no médio prazo. Para além dos doentes mentais que ainda vivem nos hospitais sem necessitar de aí estar, há os novos doentes e aqueles que residem em casa com as famílias.
Integrar as pessoas com doença mental grave é, agora, a palavra de ordem. E isso irá fazer-se através das estruturas de vários tipos previstas na legislação: além das unidades residenciais, as unidades sócio - ocupacionais (que funcionam oito horas por dia) e as equipas de apoio domiciliário. As unidades residenciais dividem-se ainda em quatro grupos: as residências de treino de autonomia, as residências autónomas, as de apoio moderado e as de apoio máximo, consoante o grau de incapacidade e dependência.
Álvaro Carvalho destaca a mais-valia que é passarmos a ter também respostas para crianças e para adolescentes com problemas de saúde mental. Haverá dois tipos de unidades, para além do apoio domiciliário e das unidades sócio - ocupacionais: comunidades terapêuticas dirigidas às que têm alterações de comportamento, por exemplo que não se aguentam na escola, e que até agora iam para colégios ligados à área da justiça; e unidades de apoio máximo para as que sofrem de doença psiquiátrica grave, nomeadamente problemas psicóticos.
Experiências: protocolos assinados amanhã
Os protocolos das primeiras experiências - piloto dos Cuidados Continuados Integrados de Saúde Mental vão ser assinados hoje em Lisboa e incluem respostas para crianças e adolescentes. Na região de Lisboa e Vale do Tejo, avançam várias unidades residenciais: uma para treino de autonomia, uma autónoma, três de apoio máximo e uma de apoio moderado para adultos. Para crianças e adolescentes haverá uma residência de treino de autonomia na Casa de Saúde da Idanha e uma unidade sócio - ocupacional. No Norte avança uma equipa de apoio domiciliário em Braga, uma unidade sócio-ocupacional em Matosinhos e duas residências autónomas em Barcelos. O centro fica com duas unidades sócio - ocupacionais. O Alentejo conta com uma equipa de apoio domiciliário para adultos e outra para crianças e adolescentes, em Beja. No Algarve avança uma residência de apoio máximo, em Almancil.
|