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HUC testam estimulação magnética transcraniana

  

Terça-feira, 31 de Agosto de 2010

Unidade criada em parceria com o Laboratório de Neuropsicofisiologia da Universidade do Minho deve arrancar ainda este ano.

 

A estimulação magnética transcraniana é um dos principais métodos físicos não invasivos de tratamento psiquiátrico e neurológico que têm vindo a ser ensaiados na última década em todo o mundo. Baseada na indução de corrente eléctrica a nível neuronal, esta estimulação promete ser uma solução terapêutica para perturbações obsessivo-compulsivas, esquizofrenia e epilepsia, entre outras desordens neuropsiquiátricas. Com o objectivo de se posicionar na linha da frente da investigação, o Serviço de Psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra deverá assinar em breve um acordo de parceria com o Laboratório de Neuropsicofisiologia da Universidade do Minho para a criação de uma Unidade Não Invasiva de Estimulação Cerebral (UNIEC).

 

Estudos pilotos apontam que «as técnicas de estimulação cerebral não invasivas promovem modificações na excitabilidade cortical (quer na inibição, quer na potenciação), modulam a actividade de redes neuronais e são promotoras de plasticidade neuronal», o que leva investigadores a acreditar no seu potencial efeito terapêutico, com vantagens relativamente a outras metodologias, refere o documento de proposta da UNIEC. Realizada dentro dos parâmetros de segurança, esta estimulação cerebral não possui qualquer efeito adverso.

 

António Reis Marques, director do serviço de Psiquiatria, explicou ao Diário de Coimbra que «para alguns doentes obsessivo-compulsivos muito graves, com grande incapacidade e em que a terapêutica farmacológica e comportamental já não ajuda, existia já a hipótese de tratamento com psicocirurgia». Este tratamento consiste na colocação de um estimulador cerebral profundo numa determinada zona do cérebro – um pouco à semelhança do que acontece com a cirurgia para a doença de Parkinson - e permite obter entre 70 a 75 por cento de tratamento. Ficando os eléctrodos fixados no crânio, a estimulação eléctrica chega pela ligação a um neuroestimulador, implantado por baixo da zona da clavícula. «A Neurocirurgia dos HUC já fez a intervenção em três doentes com neuroses obsessivo-compulsivas e os resultados foram muito bons», refere Reis Marques.

 

A estimulação cerebral em que o hospital pretende agora apostar tem as vantagens inerentes ao facto de não ser invasiva e de poder ser usada num espectro maior de doenças. Em cada sessão, os eléctrodos são colocados no escalpe, sendo feita monitorização da intensidade da corrente com recurso a imagens do cérebro.

 

«A princípio será usada em perturbações neuróticas e fóbicas, mas também pode ser útil no tratamento de depressões. A estimulação cerebral não invasiva não tem inconvenientes para o doente e pode ser feita em ambulatório, num número variável de sessões», acrescenta o psiquiatra.

 

Os resultados deste tratamento são até à data promissores, faltando ainda a consolidação dos mesmos com amostras alargadas de doentes e ensaios clínicos de fase II e II. Em finais de 2008, foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA) a primeira terapia por estimulação magnética transcraniana. O objectivo da UNIEC a instalar nos HUC é «proporcionar alternativas de tratamento de várias doenças psiquiátricas, através de uma monitorização experimental dos resultados dos vários protocolos de tratamento».

 

Psiquiatria muda de paradigma

 

Reis Marques acredita que, na próxima década, assistiremos a uma mudança do paradigma de actuação da psiquiatria - com cada vez maior enfoque no acompanhamento em ambulatório e na integração na comunidade - e que esta área pode ter muito a dar em termos de alternativas terapêuticas. A parceria para a criação da UNIEC é uma forma de «nos colocarmos na linha da frente da investigação», sublinha, adiantando que, se o protocolo for assinado em Setembro – como previsto – os ensaios terapêuticos devem começar ainda este ano.

 

O psiquiatra João Relvas e o psicólogo Fernando Pocinho serão os responsáveis pela implementação do projecto nos HUC, em colaboração com Óscar Gonçalves, da Universidade do Minho. Segundo Reis Marques, já foi desencadeado o processo de autorização do Conselho de Ética do hospital, bem como serão salvaguardadas as necessárias questões do consentimento informado. «Será feita uma avaliação psicológica do doente antes e depois do tratamento», apontou.

 

Cada vez menos internamento e mais projectos na comunidade

 

Na direcção da Clínica Psiquiatria dos HUC há apenas três meses, Reis Marques tem dedicado especial atenção aos projectos que levam o serviço de Psiquiatria para a comunidade - seja através de parcerias com os agrupamentos de centros de saúde (ACES), autarquias ou instituições privadas de solidariedade social -, indo ao encontro do que está estabelecido no Plano Nacional de Saúde Mental.

 

O internamento irá diminuir e a grande maioria dos doentes será tratada em ambulatório, numa intervenção que privilegie a reabilitação psicológica e a reinserção na comunidade, explica o psiquiatra, apontado as vantagens desta abordagem também para a diminuição do estigma e do preconceito com a doença mental.

 

A Clínica Psiquiátrica dos HUC está a preparar um projecto com os centros de saúde da área de influência de Coimbra Norte (abrangendo Cantanhede, Mortágua e Mira) que prevê consultas de psiquiatria e acompanhamento nos cuidados primários, bem como apoio e coordenação em residências para doentes mais desprotegidos, que promovam a autonomia e funcionem como transição para a vida activa.

 

No que se refere ao serviço dentro do hospital, o grande projecto é reunir todas as valências de Psiquiatria num mesmo edifício. O pavilhão Elysio de Moura, nos blocos de Celas, será remodelado e acolherá enfermaria de homens e mulheres e hospital de dia, com vantagens para profissionais e utentes.

 

Em que consiste a estimulação magnética transcraniana?

 

A técnica consiste na indução de corrente eléctrica a nível neuronal, através de campos magnéticos que operam segundo o princípio de indução electromagnética, onde um campo eléctrico tem sempre associado, ortogonalmente, um campo magnético que é capaz de induzir corrente eléctrica noutro condutor (no caso do cérebro humano, os neurónios) suficientemente próximo. A corrente eléctrica é aplicada através de eléctrodos colocados no escalpe, de forma contínua e com baixa intensidade.

 

A estimulação cerebral não invasiva tem como objectivo o estudo da função cerebral, servindo também como um utensílio de diagnóstico e de terapia. O doente está monitorizado e os especialistas recorrem a técnicas diferenciadas de imagens do cérebro.

 

 

 






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